Duas vacas estão numa sala de ordenha e começam a conversar uma conversa bem interessante.

 

Vaca 1.  Eu não entendo porque os humanos não nos deixam alimentar diretamente os nossos filhos, eles insistem em nos trazer para este lugar, todo dia durante mais de dez meses por ano, e essas máquinas retiram o nosso leite, que certamente será todo usado para alimentar os nossos filhos.

Vaca 2. Não, isso não é verdade! Os humanos consomem muito mais da metade do nosso leite, em forma líquida ou em forma sólida, e nesse caso eles o chamam de queijo, requeijão, manteiga, etc.

Vaca 1. Você só pode estar brincando, não é ?

Vaca 2. Não, de modo algum. E isso é apenas uma pequena parte do comportamento depravado dos humanos: Os nossos bezerros quase não consomem o nosso leite, os humanos assassinam a maior parte deles, pois os machos nunca vão produzir leite. Com relação às bezerras, estas são alimentadas com o nosso leite, mesmo porque os humanos querem que elas cheguem à fase adulta para poder “presenteà-las” com essa vida de escravidão a que nós somos submetidas.

Vaca 1. Que coisa horrível! Mas como isso pode ser verdade se é óbvio que os humanos são tão inteligentes, eles, por exemplo, fizeram todas essas máquinas que nos rodeiam.

Vaca 2. Inteligência e perversidade não são excludentes. Os humanos podem cultivar as duas de modo bem substancial.

Vaca 1. Isso é muito bombástico para mim, estou sentindo uma mistura de decepção, tristeza, revolta, e mais alguma coisa ruim que não consigo expressar em palavras.

Vaca 2. Então, segura firme aí, pois há muito mais sujeira que isso: O que você acha que acontece com as vacas, que após alguns anos sendo sugadas, quase não conseguem produzir leite ?

Vaca 1. Deixe-me pensar um pouco...já sei, após muitos e muitos anos servindo aos humanos como escravas e sem reclamar, eles aposentam essas vacas esgotadas num lugar bem legalzinho, numa espécie de santuário com muito capim e água à disposição, além de algum abrigo.

Vaca 2. Você ainda está muito ingênua. A cruel realidade é que os humanos levam essas vacas esgotadas para um matadouro, onde aí elas são assassinadas, geralmente de modo bem cruel, esquartejadas, e depois as partes serão destinadas para consumo e uso humanos. Certos humanos costumam dizer que do boi, e da vaca, eles só não aproveitam o berro.

Vaca 1. Esses humanos são verdadeiros demônios.

Vaca 2. Não necessariamente. Acredito que a grande maioria dos humanos que  apoiam diretamente tantas atrocidades às vacas, por exemplo, fazem-no, sobretudo, apoiados por uma certa fraqueza psicológica: Eles são viciados em consumir queijo, por exemplo. Esforçam-se muito para fechar os  olhos às crueldades inerentes à produção de queija, desde o início quando o leite ainda está sendo produzido pela vaca, para poder continuar a viabilizar o seu consumo, com uma certa paz na consciência.

Vaca 1. Mas isso é uma verdadeira insanidade.

Vaca 2. Certamente. E tanto é verdade que a grande maioria dos humanos comedores de carne são bem sensíveis ao sofrimento imposto aos animais não humanos nas fazendas pelos humanos, é que estes evitam muito de ver, nem que seja por alguns segundos, documentários onde há imagens e sons que retratam intensa tortura aos animais, sobretudo no abate diabólico que muitas vezes acontecem.

Vaca 1. Agora percebo com clareza o cenário: Os humanos aproveitam-se, injustamente, da nossa natural ingenuidade e incapacidade para rebelar-se contra essa tirania. Eles insanamente pensam que todos os outros animais nascem suscetíveis de serem escravizados e torturados pelos humanos.

Vaca 2. Isso é verdade até certo ponto, pois há muitos humanos, em todos os países, que pensam convictamente de modo oposto ao pensamento humano ainda predominante. Esses humanos são conhecidos como veganos, e a partir deles, a partir das ideias veganas, poderá surgir uma sociedade humana que concederá a carta de alforria a todos os animais não humanos. Afinal, a base religiosa, que apoia em grande parte o inferno a que os animais não humanos são obrigados a suportar, não se sustenta.

           Os humanos criaram este inferno para os animais, inclusive para os próprios humanos, então eles têm a obrigação moral de pô-lo fim, independente de qualquer tradição ou ensinamento sagradamente diabólico.

 

                                      Johanns de Andrade Bezerra  

 

 

 

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